terça-feira, 31 de agosto de 2010

16 de Agosto - Testando minhas habilidades narrativas,

Sério, você não precisa ler isso. É muita prosa...

"Sentei em outro lugar pra tentar me entrosar com outros alunos. Hoje o dia tava meio chuvoso e meu far disse: - I think you're lucky! I can drive you today (: it is raining.


Meu hostpai é um doce. Nem tava chovendo assim, o tempo tava fechado como sempre é pela manhã. Acho que ele gosta de levar a gente pra escola: eu e Paula. Ele falou: 'Você tem sorte pelo tempo estar chuvoso 'mas foi com um sorriso cúmplice que por pouco não veio acompanhado de uma piscadela. E graças a ele eu não tive que peladar. Minhas nádegas (ou, minha bunda pra ser menos educada) ainda estão doendo por ontem.

Hoje foi o dia de conhecer o pai da minha terceira família e eu não estava nada, nem perto disso, animada. Acho que estaria mais feliz indo comprar pão do que participando desse evento magnífico. A minha imaginação se engarregou de esculpir um homem baixo, gordinho, bigodes negros, com pouco gosto para moda, e quase careca vindo me buscar num carro pomposo e com uma risadinha característica que quase não lhe sumia a face junto as bochechas rosas, o que me irritava. Cheguei da escola, como sempre, cansada. Morta de sono por ontem ter ido dormir, ainda à contra-gosto, às 2 da manhã. Preferia terminar de ler o último livro da saga de Harry Potter , com as pálperas quase desabando, a me render ao bom-senso, fechar o livro e dizer: - é, tá na hora de dormir pra amanhã acordar cedo e 'disposta', mocinha!

Montei uma fortaleza de legos com Paula, na esperança de que encontrar modos de conquistar a pequena me desse uma faísca de realização. (Acho que estamos começando a falar a mesma língua). Depois de uns 40 minutos entre micro peças coloridas e o walk-man do meu pai italiano me brindando com o português brasileiro ao som de(pasmem!) Astrud Gilberto, me rendi e fui pro quarto. Cochilei por quase uma hora. Acordei com o estrondo do despertador me azucrinando os ouvidos e começei a me aprontar para a tão esperada reunião de segunda-feira do Clube.

Às 5 e meia o tal homem chegou. O oposto do que eu imaginei. (É bom quando se espera o pior, dá pra se surpreender com pouco/ acho que hoje não é um bom dia, o meu sono me deixa mal-humorada - pra ser sincera, e menos ranzinza, era bem apessoado o fulano.) De uma docura quase débil. A altura disfarçava a barriga displincente, loiro, rosto redondo, olhos azuis (típico dinamarquês), sorridente e de um olhar meio perdido. - Are you ready? Ele pergutou. - Sim, estou pronta. E fomos.

O carro devia ser de 98 ou coisa assim, mas as vestes eram muito boas, um terno preto de corte moderno e por dentro uma camiseta roxa - não havia cor melhor para sobrepôr o tom da bochechas e o rosa que se espalhava desde o pescoço até a testa e o pouco da calvisse que se anunciava.

Dei um abraço no meu far e na minha mor com se fosse despedida. Entramos no carro, ele mais sorridente ainda que à porta de casa e coloquei os cintos. O ânimo do homem contrastava com o meu desagradável oposto. Ele me encheu de perguntas na espera de que engajássemos em uma longa e calorosa conversa, mas só consegui respondê-las brevemente com um sorriso um tanto forçado, quase caridoso.

Chegamos ao lugar da reunião. Bonito, aliás, muitíssimo bonito. Era uma antiga construção à beira do lago que fora restaurada. E a paisagem me veio com um sopro, despertando-me uma lasquinha de excitação. Uma fonte no meio, o imenso lago à frente, floresta ao fundo. Dois andares, no primeiro piso um restaurante e no piso de cima, onde velas, rosas, lustres antigos se contrapondo a bolas suspensas de luz, nos esperavam. Tudo de muito bom gosto. Talheres e taças à mesa e uma porta aberta ao que seria uma bela varanda. Arquitetura surpreendente. Sentei-me no lugar que me foi designado por Neils (este é o nome dele) enquanto os outros membros iam chegando pouco a pouco e vinham até a mim me comprimentar com um: - velkommem! e o meu sorriso congelado: - tak.

Minha barriga a conversar comigo, todos sentados e o jantar foi servido: batatas (estão surpresos?) e lombo de porco. Tudo uma delícia. Fiquei satisfeita de não ter que esperar a reunião inteira para jantar. O jantar foi servido antes.

Mal coloquei 3 batatas cozidas com casca no meu prato, me preparando para pegar a outra travessa com o lombo e as pessoas, todas elas, umas 20 dividas em 3 mesas, começaram a tirar dinheiro da carteira a colocar no centro da mesa. A mulher que estava ao meu lado, com um risinho orgulhoso, disse: - É pra pagar o jantar, mas não se preocupe que você não precisa não. Me parecia que todos aqueles senhores se sentiam por demais valorizados e contentes a ver assim tantas notas à mostra, as 'suas' notas, tiradas de suas carteiras, em exibição no centro da mesa. A minha expressão foi essa mesma que você está supondo que fosse, uma interrogação despontou da extremidade do meu nariz e quase com uma careta, fiquei a observar todas aquelas criaturas corpulentas e 'estranhamente' risinhosas, por este instante.

O presidente (o senhor Neils) se levantou e começou a falar e como era de se esperar as frases não passaram de grunidos para mim. Foi breve e sentou-se. Logo, a mulher que estava ao meu lado levantou-se, gruniu também, apontou para mim e esbanjando satisfação pediu, em inglês é claro, que eu me apresentasse. Foi constrangedor, mas eu já esperava por isso. Me levantei fazendo um estrondo incômodo ao arrastar a cadeira para trás e comecei tentando embromar o dinamarquês: Hej, jeg hedder Ayume, jeg er fra Brazilien, I can't speak danish (e todos juntos: HAHAHAHAHA), de certo eles acharam que a minha tentativa patética de tentar falar a língua deles era uma piada (acho que estou sendo dramática, o meu mal-humor não ajuda, mas, pra ser sincera, todos riram como se aquilo fosse uma gentileza. E de fato foi, uma sensação de acolhimento pontou do canto dos meus lábios e transfigurou-se num meio sorriso.)

Sentei-me novamente. (Agora a preguiça parece tomar conta dos meus dedos e cama mira-me deliciosamente, vou terminar logo o caso). Para ser breve, o resto da noite se resumiu a cerimônia de boas-vindas a dois outros homens, agora membros do clube. Um deles magro como o quê, a face contraída tentando demonstrar emoção e e os lábios serrados, respeitosos, se estivesse sozinho no meio do deserto a observa-lhe, de certo diria que acabara de perder um ente querido. Acho que o pobre do homem amarrotado queria mesmo era estar pulando e correr de uma ponta do salão a outra até alcançar o presidente e dar-lhe um abraço profundo, seguido de um beijo na testa. Mas estava concentrado e quase se contorcia para demonstrar comoção enquanto recebia o broche que o faria membro da quase seita. O outro homem tinha uma cara lavada e um sorriso de canto de astro cinquentão de Hollywood. Estava bem vestido, como quem se prepara pra cerimônia do Oscar. Era a hora de receber o seu troféu e observava o momento de glória do colega ao lado quase devorando o mini-tesouro com os olhos. A hora chegou, o homem virou-se para a platéia para que todos nós pudéssemos desfrutar daquele grande momento, só faltou acenar para nós, seus supostos fans. E no silêncio que se fazia, enquanto todos apreciavam o ritual, o barulho que se ouvia era o ranchir de uma velha câmera analógica. Eles cantaram, dinamarqueses adoram cantar, a mim parecia um Parabéns Pra Você, mas na verdade era um 'Agora você é um dos Nossos'.

Logo todos se sentaram (graças a Deus!) e outro homem levantou. Vestia uma camisa xadrez que lhe parecia pequena demais e no mínimo desconfortável junto a uma calça clara. Ela começou a falar e eu continuei entretida com a minha chícara de café e com os reflexos que surgiam da pequena colher prateada. A voz do homem era cantada, realmente divertida. Ele tinha uma cabeça achatada, era bastante alto, pele bronzeada e um dente falso de metal que lustrava o sorriso largo. O homem falava e zanzava, às vezes fazia um círculo em volta do seu próprio eixo como se dançasse lambada. Aos poucos percebi que as pessoas o olhavam perdidas e tinha a mesma cara meio tola, perdida, estampada, com as sombrancelhas um poucos precionadas. A mulher ao meu lado falou: - Percebe o sotaque? Ele é norueguês, não dá pra entender muito bem.
E mesmo irritada com toda a aquela falação cantarolada continuava a sorrir. Tinham a mesma expressão de quando eu tentava lhes fingir atenção e curiosidade quando na verdade não entendia uma só palavra. Foi bastante divertido pra mim. Me contive pra não desmonstrar a minha imensa satisfação. O homem falou por quase uma meia hora, aos poucos as pessoas começaram a olhar para o relógio impacientes e novamente pro homens, a pigarrear, pegar mais uma xícara de café, cochichar. Quando ele finalmente concluiu a sua interessantíssima fala, o senhor Neils se apressou em pegar o sino, balançou e sinalizou que acabara a reunião.

ufa!

Ele me levou pra casa, quase abri a porta e sai correndo. Mas esperei e finji uma paciência sobre-natural. Cheguei. Como é bom estar em casa.

(não quero mudar de família) tchau :*

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